Analise A União Europeia Perante o desafio da globalização e do paradigma das TIC, seus pontos fortes principais e as suas principais dificuldades
I - Síntese
Este trabalho insere-se no quadro de avaliação da cadeira de Políticas Europeias para a Inovação, a Competitividade e o Emprego e tem como objectivo discutir e analisar os desafios que a União Europeia enfrenta perante o processo de globalização e da mudança de paradigma de competitividade, nomeadamente, evolução tecnológica e particularmente, as tecnologias de informação e comunicação.
II - Palavras-chave
Globalização; Competitividade; União Europeia; Estratégia de Lisboa
Globalização - A globalização é um processo de aprofundamento da integração económica, social, cultural, política, impulsionado pelo desenvolvimento dos meios de transporte e das tecnologias de informação e de comunicação.
Competitividade – A competitividade é a capacidade de um país de competir a nível internacional, Possas, 1997 e Chesnais, 1981 citado por Bongardt e Varum (2007:121).
União Europeia – A União Europeia é uma parceria económica e política com características únicas entre 27 países europeus democráticos. (http://europa.eu). É uma experiência política sem precedentes de capacidade de convivência pacífica e de partilha de destino de tão grande número de nações. A união tem como objectivo fundamental promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos.
Estratégia de Lisboa – A Estratégia de Lisboa, também conhecida como Agenda de Lisboa é um plano de desenvolvimento da União Europeia. Tem como principais objectivos tornar a União no espaço mais dinâmico e competitivo do mundo baseado no conhecimento e capaz de garantir um crescimento económico sustentável com mais e melhores empregos e com maior coesão social e respeito pelo ambiente (Rodrigues, 2003: 39).
III – Introdução
O processo de globalização e a evolução tecnológica em curso impõem à Europa um vasto conjunto de desafios, sobretudo, perante o cenário em que o EUA e o Japão estão na linha da frente no que toca ao desenvolvimento tecnológico e científico e em que a China e a Índia emergem como novos gigantes internacionais capazes de produzir e exportar produtos e serviços sofisticados. A juntar à esses desafios de rápida mudança tecnológica e a globalização acelerada, a Europa faz face a outro desafio que é do envelhecimento da sua população. Como disse Maria João Rodrigues[1] a Europa é uma ilha de excelência, mas o seu dinamismo está sendo atrasado pela tendência de envelhecimento da população que está reduzindo a população activa (Rodrigues, 2006[2]).
Portanto, a nova ordem económica mundial que tem vindo a emergir, fruto do processo de globalização e do desenvolvimento de novas tecnologias, particularmente as de informação e de comunicação, impõem à Europa novos desafios que terá de ultrapassar para atingir os seus objectivos.
IV – A União europeia perante os desafios da globalização
Perante a globalização e a mudança do paradigma de competitividade e de desenvolvimento, a União europeia faz face a desafios de vária ordem, desde os ligados ao aumento da produtividade, até aos de conhecimento, passando pelo desenvolvimento da inovação, de novas tecnologias, de pesquisas e desenvolvimento, entre outros.
Mas perante esses desafios, as opiniões divergem quanto a posição ou caminho que a união Europeia deve tomar. Por um lado, há um conjunto de pessoas que defendem que a Europa deve sacrificar a competitividade para salvar o trabalho e o modelo social europeu, e por outro lado, há outro conjunto de pessoas que defendem o contrário, ou seja, o sacrifício do emprego para reforçar a competitividade. Rodrigues aponta para uma 3ª via, segundo a qual a Europa pode competir na base de conhecimento, inovação, trabalho mais qualificado, homens e mulheres mais activas com acesso a bom sistema de protecção social e cuidados familiares. Segundo a autora, a Europa precisa atingir maior competitividade assim como reforçar o seu modelo social. (Rodrigues, 2006).
Para tal, são necessárias grandes reformas, nomeadamente, energizar o modelo social europeu, criar mais e maior rede de inovação para interligar empresas e universidades, mais formação e qualificação dos trabalhadores, melhores serviços e cuidados familiares e um equilíbrio na balança entre os benefícios e contribuições do sistema de segurança social com maior equilíbrio entre as gerações (IDEM).
Segundo Trichet[3], a performance da economia europeia tem sido insatisfatória, sobretudo, quando comparada com os EUA. O autor aponta três factores que do seu ponto de vista explicam a tendência de crescimento em baixa da zona euro: o grau de utilização da força de trabalho, a produtividade e a tendência demográfica (Trichet, 2007).
Segundo autor a zona euro observou de 1996 a 2006 um ligeiro melhoramento no grau de utilização da força de trabalho, com um crescimento médio de 0,4% por ano comparado com 0,1% dos EUA. O que se reflectiu na taxa de crescimento de emprego de 58% em 1996 para 64,4% em 2006. Mas apesar desse importante progresso, a taxa de emprego na zona euro contínua abaixo do padrão internacional (64,4% na zona euro comparado com 72% nos EUA) (IDEM).
Ainda do ponto de vista do autor, uma das razões que ajuda a explicar essa diferença de produtividade é, nomeadamente, a de que economia europeia é mais inflexível e não tira total vantagem das oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias, incluindo as tecnologias de informação e comunicação, e da nova divisão do trabalho iniciado através da globalização.
Na sua perspectiva, a reestruturação do sector produtivo e o processo de produção parece ser mais difícil e menos flexível na economia europeia e esta falta de flexibilidade faz com que a Europa não tire total vantagem das novas oportunidades geradas pela globalização, nem beneficie de aumento de produtividade de trabalho.
Tal como Maria João Rodrigues, Trichet também defende que a performance europeia tem sido constrangida pela baixa taxa de crescimento da população e pelo seu envelhecimento. Desde meados de 1990 que a população da zona euro tem crescido apenas 0,4% anual comparado com1,1% nos EUA. O paradoxo dessa situação é que a idade da população trabalhadora cresceu em média 0,3% na zona euro de 1996 a 2006 comparada com 1,4% nos EUA.
De todo o crescimento de emprego na zona euro não foi suficiente para anular as fraquezas do mercado de trabalho e a Europa tem ainda que aumentar consideravelmente a sua taxa de emprego para poder competir no mercado global.
Ao nível da produtividade - ela é o factor que ajuda a explicar o crescimento diferencial entre a zona euro e os EUA. Segundo Trichet, durante a década de 1980 e a primeira metade da de 1990 a produtividade cresceu em média 2,4%, mas desacelerou para 1,3% entre 1996 e 2006, ao contrário dos EUA que cresceu de 1,3% para 2,1% no mesmo período.
Os dados indicam uma séria preocupação com a performance da EU nos últimos 15 anos, o que motivou a elaboração da Agenda de Lisboa em 2000 e posteriormente a sua revisão em 2005, focando nos objectivos de emprego e crescimento. A UE-25 foi caracterizada por uma ligeira desaceleração de crescimento do PIB, acompanhado de crescimento lento da produtividade. Apesar de algum recente progresso em termos de aumento da taxa de emprego, o ganho de produtividade de trabalho foi insignificante. Durante a década de 1990 e a primeira metade da presente década, o PIB da UE cresceu mais lentamente do que o dos EUA (ver quadro abaixo).
Crescimento de PIB e PIB per capita (UE- 25/EUA)
1990-95
1995-2000
2000-2005
2005
PIBpc 2005
EU
1,7
3,0
1,8
1,8
100
EUA
2,5
4,1
2,4
3,2
152
Fonte: Comissão Europeia (2006a).
Em termos de produtividade a Europa está a ser superada não apenas pelos EUA, mas também pelo Japão. E se a tendência da última década se verificar, poderá ser ultrapassada por vários outros países da Ásia (Archibugi, Lundvall, 2002: 45).
De acordo com Trichet, a falta de reforma estrutural é a maior causa de diferenciação do potencial crescimento da Europa comparado com os EUA e com outros países mais avançados. E nessa esteira o autor apresenta três prioridades chave para a reforma da União Europeia:
Aumentar a taxa de emprego – é necessário implementar medidas para aumentar a oferta de trabalho, incluindo a reforma dos impostos e do sistema de benefícios para aumentar os incentivos ao trabalho. O uso de formas flexíveis de trabalho como o part-time e o trabalho temporário pode também fornecer um incentivo. É igualmente necessário reduzir a rigidez no mercado de trabalho, aumentar a flexibilidade e a reformar a legislação laboral.
Aumentar a competição – vários estudos apontaram que para aumentar a competição é também necessário aumentar o emprego, estimular a produtividade e melhorar a eficiência na produção e reforçar o incentivo para investimento e inovação.
A mobilidade de trabalho é outro elemento apontado como forma de aumentar a competição, mas ela é ainda baixa na zona euro.
A par do desafio da produtividade, um outro igualmente importante é o da inovação. É imperativo estimular a inovação para explorar todo o potencial de produtividade. A reforma de mercado de trabalho e produto tem de se fazer acompanhar por políticas que apoiam a inovação e a mudança tecnológica. Isto implica a criação de um ambiente económico propício ao empreendorismo, medidas de apoio à inovação através de investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) e políticas que ajudam a melhorar o capital humano. A Europa precisa de mais e novas empresas para tirar os benefícios do mercado aberto e embarcar na aventura de criação ou inovação para exploração comercial em larga escala.
Outro grande desafio que a globalização impõe é o do conhecimento. Neste moderno quadro de produtividade e de competitividade mundial, o conhecimento tem estado a tornar num factor determinante, num “imput” fundamental para a competitividade da actividade económica e geração de crescimento e desenvolvimento e assume um papel fundamental como motor do crescimento económico na nova economia de aprendizagem.
O conhecimento e a inovação estão a tornar-se nas principais fontes de riqueza e também de diferença entre as nações. Mas os dados mostram-nos que a Europa está também a ficar para traz no que toca ao investimento para a criação de uma sociedade do conhecimento.
De acordo com Wikstrom e Norman citado por Rodrigues, a gestão do conhecimento está a tornar-se um factor chave da competitividade, conduzindo a uma reconsideração fundamental dos princípios de gestão estratégica (Rodrigues, 2003.26).
O conhecimento é hoje uma componente fundamental da competitividade" disse o comissário europeu responsável pela Ciência e Investigação, Janez Potočnik. “Para que as nossas empresas estejam no futuro no topo da vanguarda, é necessário que se invista no conhecimento agora. Cabe aos governos adoptarem as medidas adequadas para as ajudar a fazê-lo" (Comissão Europeia, 2007).
A UE faz parte de um mundo globalizado onde a distribuição do conhecimento é mais equitativa do que nunca. A alta competição a este nível exige que a UE se adapte e torne o EEI (o que é?) mais aliciante para o resto do mundo (Comissão Europeia, 2007).
Face a globalização a Europa tem outro importante desafio: melhorar o nível de educação e qualificação da sua força de trabalho. Considerando os desafios de inovação e de conhecimento, a competitividade neste mundo globalizado exige que capital humano seja continuamente ajustado às necessidades do mercado de trabalho através de educação e formação, bem como aprendizagem ao longo da vida.
Se o desenvolvimento tecnológico e a inovação são factores críticos da competitividade, isto implica que a UE tenha recursos humanos qualificados, capazes de levar a cabo esse processo de inovação. A acepção dinâmica de competitividade veio revelar a importância do capital humano pois, sem recursos humanos qualificados não será possível prosseguir com sucesso o processo de inovação.
Mas apesar do investimento em capital humano ter aumentado nos últimos anos na Europa, é ainda claramente inadequado para uma economia intensiva no conhecimento. Por exemplo, em 2003, a despesa anual com educação representou 2,9% de PIB nos EUA, enquanto que na zona euro representou apenas 1,2%.
Neste novo quadro de competitividade mundial, a par da melhoria de qualificação dos seus recursos humanos, a Europa enfrenta outro grande desafio - o de promover o investimento em pesquisa e desenvolvimento.
A investigação é uma fonte essencial de criação de conhecimento, que desempenha um papel crucial na compreensão do mundo em que vivemos e também na melhoria da competitividade, da qualidade de vida, da coesão social e da governação (Rodrigues, 2003:87)
Segundo esta autora, a União Europeia apresenta muitas fragilidades nesta área, sobretudo quando comparada com os EUA. Na UE ainda existe algumas restrições a investigação fundamental inovadora, há uma fraca sensibilidade da investigação pública às necessidades do mercado, o contributo do sector privado para as actividades de I&D é ainda muito reduzido, o interface entre a oferta e procura de I&D é muito fraco, as universidades europeias tem um baixo índice de atractividade e a promoção da cultura científica é mais fraca do que os seus principais concorrentes.
Em 2005 investimento em R&D relativo a PIB foi de 1,9% na zona euro comparado com 2,7% nos EUA. O esforço da União para aumentar o investimento em R&D é ainda insuficiente e os dados mostram-nos também que a Europa está a ficar para trás no que toca ao investimento para a criação de uma sociedade do conhecimento.
Os dados da Comissão europeia sobre ciência, tecnologia e inovação mostram que a intensidade da I&D (despesa em I&D em % do PIB) na Europa se encontra estagnada desde meados dos anos 90 enquanto as principais concorrentes, como o Japão, a China ou a Coreia do Sul têm vindo a aumentar substancialmente (Comissão Europeia, 2007).
Segundo o relatório de 2007 da Comissão Europeia é especialmente preocupante o baixo nível de investimento em I&D na EU. Neste sentido, há que implementar as novas acções adoptadas na Europa desde 2005 no contexto da Estratégia de Lisboa revista se se pretende que a Europa enfrente este desafio com êxito. O relatório mostra ainda que a intensidade de I&D na UE estagnou em meados dos anos noventa. Em 2005, foi dispendido em I&D dos UE-27 apenas 1,84% do PIB, ainda abaixo do nível dos EUA, Japão ou Coreia do Sul. Além disso, as economias emergentes, como a China, estão a recuperar rapidamente. A manterem-se as actuais tendências, a China terá alcançado a UE até 2009 em termos de intensidade de I&D. Todavia, Estados‑Membros com uma elevada intensidade de I&D, como a Áustria, a Alemanha, a Finlândia e a Dinamarca mostram ser possível manter e aumentar a intensidade de I&D acima de 2% ou até 3% do PIB.
Ainda de acordo com o relatório acima citado, mais de 85% do desnível de intensidade da I&D entre a UE e os seus principais concorrentes deve-se a diferenças no financiamento do sector empresarial da I&D. O baixo nível da despesa privada em I&D na Europa comparativamente aos EUA deve-se sobretudo a diferenças na estrutura industrial e à dimensão mais pequena da indústria de alta tecnologia na UE.
A globalização também implica para a UE o desafio de maior e melhor parceria e complementaridade entre sector privado e sector público, maior parceria e ligação entre os laboratórios, centros de investigação, universidades e empresas.
Na Europa as universidades raramente agem como fonte directa de informação ou conhecimento para a actividade de inovação das empresas, a ligação entre as universidades e as empresas é insignificante, as universidades na Europa não funcionam como uma fonte de informação e de conhecimento e de ideias para a actividade de inovação das empresas (Bongardt e Varum, 2007).
A globalização impõe igualmente o desafio de melhoria de eficiência energética, a introdução de energias alternativas e a redução de Co2, como factor que contribui significativamente para a competitividade internacional. O uso de energia renovável juntamente com a eficiência energética bem como a luta contra a alteração climática diminui a dependência de importação de energia e aumenta a segurança na oferta de energia. Nesta conjuntura, torna-se imperativo ligar a produtividade ao desenvolvimento sustentável e produtividade com competitividade. Promover a eficiência energética em diferentes sectores de economia pode promover a competitividade económica, reduzir custos e impacto ambiental negativo (IDEM).
Não obstante algum progresso, na UE o investimento em capital humano, em actividade de inovação, pesquisa e desenvolvimento é ainda inadequado e a parceria e a cooperação entre agentes relevantes, nomeadamente, sector público, universidades e empresas são incipientes.
V - O paradigma das tecnologias de informação e comunicação
Para Hamalainem a economia mundial está perante uma transformação de paradigma que está transformando a estrutura da economia e a sociedade bem como os modelos mentais e sistemas de valores. Esse novo paradigma exige o rápido equilíbrio e o ajustamento tecno-económico e sócio-institucional das economias mais desenvolvidas (Hamalainem 2003:289).
Para Rodrigues são três importantes inovações na área de tecnologia de informação que estão a mudar as nossas vidas: a primeira é a incorporação da inteligência humana numa grande variedade de equipamentos, como por exemplo no computador; a segunda é o desenvolvimento das telecomunicações capazes de transmitir vozes, dados e imagem e, por último, o padrão de interacção entre computadores em rede, em que a internet é um dos exemplos (Rodrigues 2003).
As novas tecnologias de informação e de comunicação constituem hoje a nova alavanca para o crescimento económico e para a competitividade entre as regiões. O impacto das novas tecnologias de informação e de comunicação envolve não só as mudanças tecnológicas, como também institucionais, culturais e de conhecimento.
Segundo Polanyi citado por Rodrigues, estamos a atravessar uma grande transformação, que pode ser caracterizada como uma transição para as sociedades baseadas no conhecimento. Estamos a entrar num novo modo de criação, difusão e utilização do conhecimento, devido a três factores principais, a saber: A aceleração das tecnologias de informação e comunicação; os processos cada vez mais sofisticados de codificação, de aprendizagem e gestão de conhecimentos; e a percepção social do conhecimento enquanto activo estratégico das empresas, das nações e das pessoas (IDEM).
Esta vasta transformação envolve alterações nas actividades económicas, nos padrões de comportamento, de valores, de relações sociais e formas institucionais.
Com o desenvolvimento das TIC e com a possibilidade por ela criada de interacção instantânea, a independência global dos mercados e a mobilidade de capitais aumentaram de forma exponencial.
De acordo com Arcchibugi e Lundvall citado por Rodrigues, estamos a testemunhar uma nova dimensão do processo de globalização com o aumento de transacções intangíveis a nível internacional, compreendendo não só os serviços, como também a transferência de tecnologias, informação e conhecimento. Com a difusão do comércio electrónico, mais particularmente com o business-to-business, estão a emergir novos mercados electrónicos, acelerando assim as transacções globais (Rodrigues, 2003:26).
Ao nível cultural, com a globalização das redes de informação, cria-se entre outras coisas, uma nova reciprocidade em cada comunidade de conhecimento (na ciência, na arte, na empresa, na política, etc.) e entre diferentes culturas. A capacidade de conexão e identidade cultural estão a tornar-se os principais activos para a existência perante os outros (Rodrigues, 2003:69).
A tecnologia determina a competitividade de duas importantes maneiras: primeiro, a eficiência e custos com os quais transforma os seus recursos produtivos; segundo, o valor que acrescenta ao produto. Como resultado a tecnologia influencia o preço, o não preço, a competitividade das empresas e do sistema económico.
De uma perspectiva dinâmica a importância da inovação tecnológica para a performance da economia tem sido reconhecida desde os trabalhos de Joseph Schumpeter (Hamalainem 2003:104).
Segundo o autor, o impacto na nova tecnologia na competitividade e crescimento é determinado em duas fases do processo, inovação e difusão. A relativa importância da inovação e difusão das tecnologias para uma economia depende da sua capacidade e recursos tecnológicos endógenos vís-à-vís o resto do mundo. Ainda segundo este autor, as nações mais pequenas são relativamente mais dependentes da transferência e difusão de tecnologias estrangeiras do que da inovação e difusão da sua própria tecnologia (IDEM).
O potencial da nova tecnologia tem-se tornado num elemento chave de difusão de informação e conhecimento. Segundo vários estudos, existe uma forte correlação entre o uso das TIC, por exemplo, o uso da internet, e o índice de desenvolvimento do país (Archibugi e Lundvall, 2002). Como exemplo, o EUA tem maior uso de internet e preço mais baixo, maior número de websites, serviço de informação e venda por comércio electrónico do que a Europa.
Na perspectiva de Archibugi e Lundvall, o mundo está a entrar numa nova era na qual o acesso a informação se tornou na maior característica de produção e de consumo e o conjunto de novas TIC tem sido o centro desse processo (2002). Este processo é também forjado pelo desenvolvimento de novas tecnologias.
Se para a teoria económica tradicional a especialização era benéfica porque conduzia a maior eficiência do uso dos recursos disponíveis, para estes autores, o que é determinante para crescimento e competitividade já não é mais aumentar o grau de especialização em geral, mas sim, a habilidade para explorar áreas de oportunidade em alta tecnologia, que nos últimos anos tem sido dominado pelas tecnologias de informação e comunicação (Archibugi e Lundvall, 2002: 53)
Mas, apesar de algum progresso feito nesta área, a Europa tem perdido em tecnologia e as TIC para os seus concorrentes mais directos. Os dados mostram que, com excepção de equipamentos de telecomunicação, a Europa esta atrás dos EUA e do Japão e que a difusão de produtos e serviços de TIC é também mais lento na Europa, particularmente quando comparada com EUA.
Na perspectiva de Archibugi e Lundvall, o crescimento lento da Europa é o resultado do não aproveitamento das vantagens tecnológicas, particularmente das TIC, num contexto de rápido crescimento da tecnologia (IDEM).
VI - Conclusão
Num mundo cada vez mais globalizado e em que as TIC estão a assumir um papel determinante na produção, difusão e utilização de conhecimento, e consequentemente de competitividade entre países e regiões, os dados revelam-nos que a performance da Europa está longe de ser satisfatória. E não obstante se ter registado algum progresso, a Europa ainda tem de tirar maior partido da globalização e das TIC, de modo a dar respostas a esses novos desafios.
Neste sentido, para que a Europa atinja o seu objectivo de ocupar o lugar de liderança neste moderno quadro de competitividade e de desenvolvimento, terá de proceder a algumas reformas, nomeadamente, desenvolver um sistema de educação e de formação de modo a capacitar os cidadãos, criar e/ou estimular um ambiente propício para o desenvolvimento de novas tecnologias, sobretudo as de informação e de comunicação, estimular um crescimento mais rápido e efectivo da inovação tecnológica e melhorar a sua difusão e aprendizagem.
VII – Referências Bibliográficas
ARCHIBUGI, Daniele e Lundvall, Bengt-Ake (2002) The globalizing learning economy, New York : Oxford University Press.
RODRIGUES, M. J. (2004), Agenda Económica e Social da União Europeia – A Estratégia de Lisboa, Lisboa, Publicações Dom Quixote.
TRICHET, Jean-Claude (2007), How can we increase growth potential in Europe? Suomi Areena.
BONGARDT, Annette e Varum, A.C. (2007), Competitiveness factors, a Portuguese Perspective, Oeiras, INA.
HAMALAINEM, Timo J. (2003) National Competitiveness and Economic Growth, Edward Elgar publishing Limited, UK.
EUROPEAN COMMISSION (2007) Key Figures 2007, Towards a European Research Area Science, Technology and Innovation
Links
European Commission: http://ec.europa.eu/
http://www.mariajoaorodrigues.eu www.oecd.org
http://ec.europa.eu/research/era/consultation-era_en.htmlhttp://ec.europa.eu/invest-in-research/monitoring/statistical01_en.htm
[1] Maria João Rodrigues, presidente do Conselho para as Ciências Sociais da Comissão Europeia.
[2] Rodrigues, M.J., Three Europes facing globalization, Disponivel em http://www.mariajoaorodrigues.eu/lisbon-agenda/news/index.php?id=19, consultado em 1 de Julho de 2008.
[3] Jean-Claude Trichet é presidente do Banco Central Europeu.
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